sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Américo Faria e os 30 anos do Tetra e os 10 anos do Título do Boavista

Dois títulos, duas histórias entre o jornalista e o coordenador de seleções/treinador do Boavista em 2014

Américo Faria, Zagallo, Parreira, Moraci Sant'Anna e Lídio Toledo em 1994


Por Artur Rangel

Américo Faria fez história como coordenador da seleção brasileira de 1989 a 2010, sendo seu último trabalho na CBF na Copa da África, em 2010. Mas lá no passado treinou inúmeros clubes como Olaria, CSA, mas fez história em 2014 com o Boavista de Saquarema. Para quem não sabe, Américo Faria dava conselhos, puxões de orelha, brincava, falava das histórias de 94 após as entrevistas no Estádio Eucyr Resende de Mendonça, em Bacaxá. O olhar de quem já tinha conquistado Copa América de 89, 97,99, 2004, 2007, Copa das Confederações 97, 2005, 2009, Copa do Mundo de 1994 e 2002, foram as conversas e os episódios já passados durante 31 anos na parte de coordenador da Confederação Brasileira de Futebol que fizeram a volta do treinador que, em 2014, no ano da Copa do Mundo em casa, no Brasil, fez uma campanha desde o início com o empate em São Januário, contra o Vasco, na estreia empatando por 2 a 2. 

Homenagem da seleção para Ayrton Senna Foto: Divulgação 


Em 1994 o país passava por mudanças tanto na área política, quanto na moeda que no governo de Itamar Franco (presidente que assumiu após epeachment de Fernando Collor) começa o plano Real, mudando totalmente a economia do país. Na fórmula 1 a mudança de Ayrton Senna da McLaren para a Willians/Renault num ano muito polêmico com as mudanças nas regras e na parte de suspensão ativa e eletrônica dos carros. O piloto tricampeão mundial foi o que mais lutou para não ter essas mudanças que no GP de San Marino, teve o pior final de semana de toda a fórmula 1: a morte de Roland Ratzemberger, o acidente de sexta feira com Rubens Barrichello que quase morreu e no domingo, dia 1º de maio, a trágica morte de Ayrton Senna na curva Tamburello. Algumas semanas atrás, na França, o piloto da Willians deu o pontapé inicial de um amistoso da seleção brasileira. Ali poderia ocorrer 2 tetracampeonatos: de Senna na F1 e do Brasil na Copa do Mundo nos Estados Unidos. 

Nas eliminatórias o Brasil passou por derrotas difíceis como a da Bolívia em La Paz, empates em casa com Equador, Chile, entre outros deixava aquela seleção com uma pulga atrás da orelha do torcedor. Mas num belo dia, no estádio do Arruda, a mudança chegou e foi de dentro daquele elenco pra fora. O xerifão Ricardo Rocha comandou uma mudança na entrada de campo: todos de mãos dadas, com o pacto entre todos de levar a seleção brasileira a alegria que não estava tendo de jogar futebol e dali em diante a alegria voltou e o sorriso do torcedor brasileiro voltava ao rosto de cada um. Na última rodada o Brasil precisava do resultado positivo para carimbar sua vaga para a Copa de 94 e um certo camisa 11, marrento, jogador de futevôlei do posto 9, chamado Romário apareceu pra ser o protagonista daquele jogo histórico contra o Uruguai no Maracanã. No primeiro tempo teve bola na trave, defesa de Siboldi com sua camisa de manga longa roxa com numeração branca, pegava até pensamento no 1º tempo. Mas na etapa final, Romário estava mais inspirado ainda, fazendo 1 a 0 de cabeça ( impulsão de jogador de futevôlei) e no segundo gol o baixinho deixou o goleiro uruguaio na saudade e carimbou a vaga do Brasil para a copa do mundo dos Estados Unidos.

Américo Faria, coordenador da seleção brasileira falou sobre aquelas eliminatórias e a dificuldade que teve a tricampeã mundial a dar a volta por cima naquelas eliminatórias:

"Foi uma competição que sofremos muito. Muitos remanescentes da Copa de 90 do Lazaroni, jogadores que estavam jogando muito bem nas suas respectivas equipes e na seleção não estavam rendendo. Até que veio aquele jogo no Arruda, onde o Ricardo Rocha teve a idéia de unir a torcida de volta para o nosso lado. Todos os jogadores entraram de mãos dadas e ganhamos de goleada a Bolívia. Dali pra frente o astral mudou, a auto estima era outra e voltamos a ser confiantes nos jogos que nos restavam para conseguir a vaga para a copa de 1994. O Romário foi convocado pelo Parreira e fez o que poucos fizeram no Maracanã. Um cartão de visitas do que faria na copa dos Estados Unidos, lógico, com todos jogando para o Romário. O Taffarel falava pra ele todos os jogos da Copa que ele fechava o gol lá atrás e o Romário colocando bola na rede pra gente. Todos fizeram uma copa exuberante. O que mais quero destacar foi o Dunga, um injustiçado na Copa de 90 fez uma Copa de 94 perfeita, roubando bolas pra gente e dando passes certeiros para Romário e Bebeto lá  no ataque. Foi uma copa que graças a dificuldade que passamos nas eliminatórias fez a equipe ficar mais atenta, ligada e saber sofrer nos jogos difíceis. No jogo contra os Estados Unidos, no dia 4 de Julho, dia da Independência dos americanos, fomos um exemplo disso. O Leonardo deu uma cotovelada no Tabi Ramos e ficamos com 1 a menos. Me lembro do Bebeto consolar o Léo no chuveiro onde estava chorando copiosamente e o Bebeto prometeu fazer o gol pra ele. O jogo foi quente, tanto no clima quanto no calor que estava o jogo, pois os americanos tinham a torcida a favor toda a atmosfera a favor e o Romário achou um espaço que o Bebeto calculou certinho onde colocar a bola e fazer o gol da vitória suada, sofrida e pegar logo a Holanda. Neste jogo, o Parreira chamou o Branco e passou instruções para ele marcar o Overmars. O Branco foi perfeito na marcação, apoiou no ataque, fez triangulações como se fosse um ponta esquerda e cavou uma falta quando tínhamos acabado de sofrer o empate de 2 a 2. Lembrando que abrimos 2 a 0 com Romário e Bebeto. Em menos de 10 minutos tomamos dois gols. O Branco teve uma felicidade naquele chute que ali, tive a certeza que seríamos campeões mundiais, após 24 anos." Resume Américo.

Na parte da semifinal e final, o coordenador da CBF na quela copa falou sobre o fator fundamental que fez aquela seleção ganhar: a paciência de saber sofrer:

" Como disse anteriormente, passamos pra Copa de 1994 num momento que sofremos muito e passamos por altos e baixos, tornando a Copa do Mundo um pouco mais leve para saber passar por momentos difíceis. O Jorginho fez uma assistência com a mão pro Romário e o baixinho já sabia que ia cair naquele local a bola pra ele, ninguém da zaga da Suécia acompanhou pensando que ele não iria fazer nada. Mas mal sabiam eles que nosso camisa 11 sabia ser gigante dentro da área. O gol é da impulsão do futevôlei, sem sombra de dúvidas um gol antológico em Copas do Mundo pela importância e pelo fato de gol do Romário. Na final contra a Itália foi um jogo em que o Baggio estava no sacrifício, mas mesmo assim colocava respeito no nosso time. Fomos pra prorrogação, mas queria destacar nos pênaltis a atitude do Romário. Ele nunca bateu pênalti nessas decisões, ele pediu pro Parreira que ele queria bater e bateu com enorme categoria. O Pagliuca ficou parado no meio no gol e com a mão na cabeça e lembro que a bola resvalou na trave direita do gol e foi no meio do gol e depois bateu no pé da outra trave. O Taffarel realmente fez o nome dele contra o Massaro, mostrando sua categoria no gol. O Dunga bateu com enorme categoria e o Baggio mandou na Rua próxima do Rose Ball e fomos pra festa depois de 24 anos num título bastante comemorado e bastante sofrido." Finaliza.

Boavista Campeão da Taça Rio 2014

 Foto: Artur Rangel

Boavista campeão da Taça Rio 2014


O Boavista Sport Club comemora os seus 10 anos com o título da Taça Rio 2014. A derrota do Nova Iguaçu e a vitória sobre o Botafogo, por 2 a 1, tem um pouco de cada um e de uma ajuda que veio do olhar tático do treinador Américo Faria, uma mão salvadora de Getúlio Vargas, nos momentos difíceis, até porque um bom time começa pelo goleiro.


Os laterais Thiaguinho, Barrach e Romarinho, que marcaram, correram e driblaram as marcações duras e cruzaram, interceptaram os adversários nos momentos difíceis. A zaga composta por Gustavo, Bruno Costa, Victor e cia, deram o rosto, a cabeça e as pernas para defender a meta e não permitir de maneira alguma o gol dos adversários.


O meio campo com os volantes Rômulo, Wéverton, Pedroso, Maranhão e cia, ajudaram a defesa, tiraram o perigo dali da área e armaram o ataque harmoniosamente com os meias Thiago Silva, Cascata, Jéferson e cia, fazendo passes precisos e açucarados para Gilcimar, Romário, André Luis e Diogo, para fazer os gols do Verdão e comemorar com a sua torcida o título da Taça Rio 2014.

Foto e edição: Marcelo Santos 

Boavista campeão Taça Rio 2014


Para o treinador Américo Faria, o título de 2014 tem um gosto especial por ter sido seu retorno após anos como treinador de futebol:

"Eu estava em 2011 como coordenador do Boavista, depois em 2014 tive o convite do João Paulo N Magalhães Lins para ser treinador do Boavista na época que o time tinha um elenco com inúmeros jogadores com qualidade e com passagens pelos 4 grandes do Rio. Conquistamos o título com uma campanha bastante positiva para brigar contra os 4 grandes, vencendo na época o Botafogo por 2 a 1 em casa, empatando com o Vasco na estréia por 2 a 2 em São Januário. Portanto foi um título inesquecível e tivemos muita alegria em conquistar em casa o título com a torcida após o gol no final do segundo tempo, pelo zagueiro Gustavo, contra o Bangu." Sintetiza Faria.

Um comentário:

  1. Maravilha de história. Aliás, historias e que não faltam a Américo de Faria. Parabéns Artur!

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