Ex atleta fala dos desafios que passou e no legado do Radar para o futebol feminino de hoje
Iracema Ferreira, mais conhecida como Rata, do Radar para o mundo!
Foto: Arquivo Pessoal
Esporte Clube Radar nos anos 80 fez história representando a seleção brasileira em inúmeros eventos internacionais pelo mundo todo.
Por Artur Rangel
Iracema Ferreira, ex atleta de futebol e uma das pioneiras do futebol feminino do Brasil, jogando pelo Esporte Clube Radar, time feminino que jogou inúmeras vezes torneios internacionais representando a seleção brasileira da modalidade. Atualmente com 61 anos, Rata como ficou conhecida na época, vai falar sobre o preconceito, sobre as barreiras quebradas, sobre as histórias e sobre o legado que o Radar deixou para as meninas de hoje terem a liberdade e os resultados como a medalha de prata em Paris, nos jogos olímpicos que nem o masculino com toda estrutura conseguiu se classificar para a modalidade com uma estrutura mil vezes melhor.
Foto: Reprodução Revista Placar 1985/ Acervo Marcelão Santos
Matéria da revista placar sobre o mundialito realizado em Cabo Frio, em 1985, ganho pelas alemãs, e o Radar perdendo a invencibilidade para as americanas.
Sobre a sensação de jogar pelo Radar, Rata respondeu:
"Obrigado pela oportunidade de falar sobre a minha história pelo Esporte Clube Radar, uma história muito bonita e de muitas barreiras quebradas, na época que o futebol feminino ainda era proibido. Meu nome é Iracema Ferreira, mais conhecida como Rata, apelido que conquistei no período que joguei no Radar pelos anos 80. Meu maior desafio foi o preconceito do meu pai dentro de casa, além da lei de Getúlio Vargas Nº 3.199, que proibia a mulher de jogar futebol.
Então esse sim foi o meu grande troféu e minha primeira medalha de ouro, vencendo o preconceito, que era muito grande, a discriminação, a homofobia dentro da minha família. Essa ignorância camuflada de preconceito, das pessoas não conseguirem compreender e entender que o amor pelo futebol não define o sexo de ninguém e hoje, graças a Deus, o futebol feminino é uma realidade, o Brasil a mulher já tem uma condição muito melhor de jogar futebol sem tanta pressão, apesar de ainda existir uma pressão muito grande, mas não como o masculino, mas ainda tem muito caminho pra percorrer e por fazer pelo futebol feminino. Infelizmente ainda tem muita gente que tem a cabeça no passado. Mas o futebol feminino cresceu muito, só dá mulher poder jogar futebol e cair a lei de Getúlio Vargas já é uma grande vitória e hoje todos os clubes grandes são obrigados a ter futebol feminino, mas tem muitos clubes que não tem a assistência necessária e devida, mesmo com a diferença gritante de estrutura do masculino para o feminino, a modalidade ano após ano tem se fortalecido mais e as mulheres vão mostrando a capacidade que tem de jogar e de representar o futebol do Brasil, independente das barreiras que quebramos lá no início com o Radar, o nosso esforço foi recompensado com 3 medalhas de prata nas olimpíadas de Atenas 2004, Pequim 2008 e em Paris 2024. Isso para provar que o futebol feminino com todo o apoio e com toda a estrutura não foi classificado nem em Atenas 2004 e nem em Paris 2024, sendo que em 2008 ficaram com a medalha de bronze e as meninas, com uma estrutura abaixo do masculino, conquistaram a prata, com toda a dificuldade e com as mudanças na estrutura e na parte técnica que ainda tem que ser feitas pelo futebol feminino. Na copa da Austrália e da Nova Zelândia em 2023 pude participar e ser convidada pela Visa para participar sobre um evento falando da história do futebol feminino, que é muito importante para que as marcas apóiem o futebol brasileiro seja nas categorias de base, seja nos clubes, na seleção brasileira, enfim num todo.Isso ajuda no desenvolvimento da modalidade, a projetos sociais que apóiam e estão ainda debaixo do pano e que tem projeto, mas não tem apoio. Mas o futebol feminino prova que o quanto é necessário ter o apoio, as marcas olhem pro futebol feminino e patrocinem projetos sociais, ongs para meninas de situações de favela, que não podem ter uma chuteira adequada, as vezes, tem uma Marta, uma Rata, uma Sissi nas comunidades, mas desistem de serem jogadoras de futebol feminino pra trabalhar e ajudar a família em outra ocupação, ao mesmo tempo que o masculino tem um monte de olheiros por todo o Brasil, o feminino ainda tem muito pra caminhar ainda e em 2027, com a vinda pra primeira copa do mundo feminina, com o aval da FIFA, vamos torcer para que o título inédito seja em casa, pelo que o Arthur Elias tem feito num curto espaço de tempo, após a desclassificação na primeira fase na última copa, em 2023. Jogamos muitos anos juntas e ainda temos o time master, no qual jogamos mês passado e fizemos uma linda partida com muito entrosamento apesar da nossa idade, hoje eu tenho 61 anos, mas ainda tem habilidade, a cabeça pensa mais e economizamos na corrida, mas o importante é o orgulho, o legado e o trabalho de bandeirante que fizemos de cortar o mato alto da discriminação, do preconceito, da lei que se aboliu, assim como no passado não podíamos jogar futebol, hoje essas meninas não passam por isso e tem mais estrutura que a gente tinha no passado. - Resume Rata."
Sobre quantos anos jogou no Radar e o legado que a equipe montada e treinada pelo Eurico
Sansoni de Lira Filho, a ex jogadora respondeu:
" Na primeira seleção brasileira formada em 1991, a base era formada pelo Radar Futebol Clube. Mas sim porque foi o primeiro time brasileiro representando internacionalmente em eventos e sim, sendo uma seleção sem ter ainda o escudo da CBF, nos anos 80 e início dos anos 90, sendo conhecido e reconhecido fora do Brasil como a seleção brasileira. Em 1982, no período que o Brasil perdeu pra Itália no Sarriá, por 3 a 2, o Radar, representando o Brasil, venceu um torneio na Espanha contra a seleção espanhola pelo placar de 13 a 1, isso com a Espanha, Estados Unidos, Alemanha, Chile, com equipes profissionais e com estrutura muito superior a nossa equipe. Eu joguei no Radar até 1987, pois tive uma lesão séria no joelho, de 87 para 88, por aí. Quando se formou a primeira seleção da China, quando se formou a seleção para poder disputar a competição na China eu
não pude participar do Mundialito na primeira seleção e evento na China de futebol feminino com várias seleções na época. Tive uma lesão muito séria no joelho esquerdo, desfalcando o Radar nesse evento internacional e importante para a história do futebol feminino brasileiro e para o Esporte Clube Radar. Infelizmente não pude posteriormente participar da seleção de 91, sendo uma tristeza muito grande, uma dor que até hoje sinto, porém, foi uma experiência incrível jogar futebol, meu amor, minha paixão que até hoje com as "velhinhas" que ainda dão um caldo em muito time por aí, nós ficamos felizes em ter uma história, um legado para o futebol feminino brasileiro e escrever essa história, inclusive num mundialito no Correão, ficamos hospedadas na época em Búzios, antes de jogarmos com grandes seleções na época, perdendo para a equipe americana que tinha meninas entrosadas, jogando e tendo uma estrutura superior a nossa, com apoio de empresas e uma potência já naquela época, era como se fosse Davi contra Golias, mas jogamos e perdemos de cabeça erguida, pois sabíamos das dificuldades e do gabarito das meninas do outro lado do campo. Não é a toa que são mais de 3 vezes campeãs olímpicas, mundiais e tem um campeonato estruturalmente muito forte, com brasileiras jogando lá atualmente, a Marta ainda joga lá, entre outras meninas que jogam na liga americana, algumas na Europa, no Real Madrid, no Arsenal, na Roma, Milan, Arsenal, Lyon, PSG, entre outros grandes clubes europeus. Esse é o elevado legado que deixamos, um caminho que ainda temos que ver e percorrer com essa base que tá dando um show na Colômbia no sub 20, com meninas que acredito que vão estar na copa de 2027 em casa, jogando com a torcida favor e apoiando bastante a nossa seleção feminina e esperamos que o título venha em casa, pra coroar essa linda história que escrevemos lá atrás, no final dos anos 70 e 80. - Finaliza Iracema Ferreira.
Veja as fotos do acervo de Rata, a Iracema Ferreira:
Fotos: Arquivo Pessoal
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